Influenciada pelos povos que passaram por seu território, assim como pelas suas matérias-primas e de suas colônias, a gastronomia de Portugal é extremamente vasta, composta essencialmente por peixes, mariscos, ovos e batatas. Apesar de ser fortemente conhecida pelo bacalhau, a gastronomia portuguesa é extremamente vasta, construída em quase dez séculos de história. Muitos povos de diferentes regiões influenciaram sua culinária local, além de sua geografia. “A culinária portuguesa é dona de uma grande diversidade, por todas as influências que recebeu que vão desde os mouros e romanos aos celtas, tendo também o descobrimento um papel determinante em sua variedade”, reflete Vítor Sobral, chef de cozinha portuguesa e proprietário dos restaurantes Tasca da Esquina e Taberna da Esquina.

Dos fenícios aos romanos, dos mouros às novas gerações, a cozinha portuguesa é consequência de todos as contribuições dos ocupantes da Península. A diversidade da sua gastronomia deriva essencialmente do Mediterrâneo e do Atlântico, como se constata pela forte presença de peixe e marisco. O período das descobertas marítimas portuguesas teve um peso forte na gastronomia nacional, com a introdução das especiarias - como pimenta, canela e noz moscada - e do sabor agridoce.  Neste período também foram integrados, entre outros alimentos, o açúcar, o feijão e a batata, adotados como produtos essenciais.

O Brasil foi descoberto por navegadores portugueses, que inseriram sua cultura, gastronomia e modo de vida no novo território. Na raiz do País que conhecemos hoje está a culinária lusitana, herança do período colonial. “Não posso afirmar que 100% dos pratos tradicionais da cozinha brasileira têm influência portuguesa, pois não conheço todo o Brasil. No entanto, 98% dos pratos brasileiros que conheço têm realmente influência portuguesa”, afirma Sobral. “Tanto no Brasil como em Portugal existem movimentos culturais, que abrangem a dança a pintura, a música, a arquitetura e a gastronomia, que estabelecem uma ligação muito forte entre si. A cozinha regional brasileira como base tem a técnica de confecção da cozinha regional portuguesa, embora adaptada a fatores socioeconômicos e geográficos. Resumindo, as cozinhas evoluíam em função das matérias-primas disponíveis e da camada social em que se inseriam”, completa o chef.

Peixes e Mariscos

A sardinha portuguesa e o bacalhau, pescado em águas mais frias e afastadas, são os peixes mais usados pela cozinha lusitana. Não nos podemos esquecer, contudo, da grande variedade de mariscos, sem ser de viveiro, como o berbigão, o mexilhão, as conquilhas, etc. A carne e as vísceras, principalmente de porco, compõem também um conjunto de pratos e petiscos regionais, onde sobressaem os presuntos e os enchidos.

Vinhos

A história do vinho em Portugal vai para além da fundação da nacionalidade. Considera-se que a primeira vinha foi plantada na Península Ibérica cerca de 2000 aC. Mais tarde, sofreu influências de outros povos, que trouxeram grandes progressos na forma de cultivar e produzir a vinha, até o produto se tornar símbolo cultural da região. Com a fundação de Portugal, em 1.128, a bebida manteve a sua importância, sendo logo o produto mais exportado pelo país. Assim continuou até o período dos descobrimentos, quando Portugal introduziu o vinho em diversas regiões do mundo através do Império Português.“Na verdade somos o maior consumidor per capita de vinhos do mundo. Temos o maior conjunto de casta autóctone do mundo. Já o Douro/Vinho do Porto, foi a primeira região demarcada de vinhos do mundo. Estas três curiosidades dizem muito da nossa história”, comenta Vítor Sobral.

Doces

A maioria dos doces foram originários dos conventos no século XVI. No início da Época Moderna, a população feminina dos conventos era, em sua maioria, composta de mulheres que não tinham escolhido o hábito por fé, e sim por imposição social. A criação e desenvolvimento de quitutes era uma forma de suportar a clausura. Não por acaso, muitos nomes de doces portugueses são inspirados na fé católica: argolas da abadessa, barrigas de freira, beijo de frade, fatias celestes, farrapos do céu, manjar celeste, orelhas de abade, palmas de abade, papos de anjo, queijos do paraíso, toucinho do céu e o pão de ló. 

Uma das bases para o preparo de muitos doces são os ovos. Nos séculos XVIII e XIX, Portugal passou a ser o principal produtor de ovos da Europa, e possivelmente do mundo. Porém, a maior parte dessa produção era destinada à exportação de clara para a fabricação do vinho branco, pois esta atua como elemento purificador. Além disto as claras também eram utilizadas pelas mulheres para engomarem as roupas. A questão é que sobravam muitas gemas e o destino deste ingrediente foi a fabricação dos deliciosos doces portugueses. Surgiu então um dilema: o que fazer com tanta gema?